Os impactos da Covid-19 nos moots em 2020

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Os moots são certamente o momento mais esperado para os fãs das ADRs. Por meio dos casos fictícios, os alunos podem aprofundar conhecimentos específicos e desenvolver soft skills, assim como expandir a cultura e o networking; afinal, existem competições espalhadas pelos mais diversos países. Porém, devido à pandemia nunca vivida pela comunidade Moot, as competições foram profundamente afetadas.

A mais tradicional competição de arbitragem internacional, the Willem C. Vis International Commercial Arbitration Moot, precisou recorrer à criatividade para não ser cancelada e realizar as rodadas orais da 27ª edição. Os alunos tiveram opções: reembolsar o valor referente às audiências orais, aproveitar este valor para o ano seguinte ou participar online. Os mooties que optaram pelas rodadas online ajustaram seus fusos horários e contaram com os feedbacks por call. A final foi até transmitida pelo Facebook. A XII Competición Internacional de Arbitraje y Derecho Mercantil (Moot Madrid) seguiu o mesmo caminho.

O 17º Vis East Moot escolheu os dois formatos: houve a edição online e, em uma aposta de esperança, até o fim do ano o Vis East promete definir a nova data das rodadas presenciais. O Foreign Direct Investment Arbitration Moot (FDI Moot) estava confiante que manteria as audiências presenciais na Coreia, conforme o calendário. Mas, recentemente, optaram por acompanhar a solução dada às regionais, e também realizar a final online. A 20ª edição da International Mediation Competition, promovida pela International Institute for Conflict Prevention & Resolution foi cancelada.

No Brasil, a Competição de Arbitragem Empresarial (CAEMP) e a Competição Norte e Nordeste de Mediação e Arbitragem (COEP) estão com os casos publicados e foram adiadas por tempo indeterminado. A organização da Competição Brasileira de Arbitragem (CAMARB) publicou recentemente seu caso, e decidiu pelo formato inteiramente online para o evento. O Meeting de Negociação, após um acordo entre os inscritos e a comissão de organização, capitaneada por Camila Souza, está com suas etapas classificatórias em ambiente virtual.

Ainda bem que a tecnologia pode proporcionar à continuidade dos Moots remotamente, mas o que acharam os participantes?

Luíza Kömel, Secretária Geral-Adjunta do Centro de Arbitragem e Mediação da CCBC, que atuou como árbitra nas versões online dos Vis Moots, nos contou que houve diferenças significativas nas formas de avaliação dos participantes, principalmente no que diz respeito aos critérios relativos à postura corporal, contato visual, gestos, projeção de voz, nervosismo e, principalmente, o teamwork. Providências simples permitiram a adequação dos estudantes aos novos mecanismos de avaliação da fase oral ocorrida online, como manter a câmera mais afastada de si, aumentando o quadrante de foco.

A árbitra Kömel descreveu a experiência como completamente distinta das já realizadas, e que houve alguns problemas com a tecnologia, com a diferença de horário e cancelamentos (tanto de árbitros e times), além de ausência de interação presencial entre os estudantes e profissionais. Porém, certamente, nas palavras de Luíza, “o VisMoot tomou a melhor decisão em realizar a competição de maneira virtual, em vez de simplesmente cancelá-la. Isso possibilitou o reconhecimento da intensa dedicação dos alunos, concedendo-lhes a oportunidade de apresentar o trabalho que foi sendo preparado durante tantos meses”.

A Equipe da Faculdade de Direito do Largo São Francisco (USP) relatou que com os oradores isolados não foi possível o teamwork, porém foram tomadas outras medidas de readequação para o ambiente virtual. O bom foco da câmera que permitiu os árbitros perceberem as gesticulações dos oradores, até a atmosfera profissional que foi promovida com um fundo neutro. As falas foram claras e pausadas, prevenindo eventuais incompreensões devido a problemas de conexão, e permitindo que estivessem preparados para repetir o que fosse solicitado pelo árbitro a qualquer momento.

Quanto aos problemas técnicos, a equipe declarou que trinta minutos antes do início das oitavas de final a internet não funcionava, e precisaram se mudar para residência da coach da equipe e organizar todo o cenário novamente, além de, segundo os oradores tentarem “descobrir como fazer dois Lulus da Pomerânia pararem de latir segundos antes do começo do painel – e como manter um psicológico são neste cenário!”.

As dificuldades também existiram quanto ao fuso horário: no Vis Moot Vienna alguns times das rodadas finais acordaram durante a madrugada (1:30AM) para participar de uma longa sequência de painéis eliminatórios, sem intervalos significativos entre cada audiência.

O coach do time do Centro Universitário de João Pessoa (Unipê), Vinicius Trajano, afirmou que “Na competição virtual, os alunos tiveram a oportunidade de se adaptar a um novo método que vem sendo cada vez mais utilizado em alguns casos. Por exemplo, quando há uma impossibilidade de ter uma reunião presencial com todos os participantes da Arbitragem, seja uma reunião para assinatura de Termo de Arbitragem ou até audiência de instrução, decide-se, em conjunto, por realizar tal ato através de videoconferência.”. Eles participaram tanto do virtual Vis Moot quanto do Virtual Vis East, e acreditam que “a forma com que os árbitros são instruídos e dão as notas poderiam se moldar mais ao novo normal, visto que as condições de apresentação mudaram drasticamente.”

Apesar de todas estas questões, as equipes avaliaram de forma satisfatória a experiência. Mesmo assim, registraram grande expectativa de que o Vis Moot retorne ao formato original, porque “há uma perda na experiência de contato internacional, bem como na sensação de união do time e na motivação dos participantes”. Acreditamos que esse representa o sentimento de todos os Mooties. Afinal, são nesses encontros que nascem os grandes profissionais e são criados os laços entre os competidores.

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