Entrevista: Verônica Sandler

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WOMEN WAY IN ARBITRATION: UM ESPAÇO PENSADO PARA O DESENVOLVIMENTO DA MULHER NA ARBITRAGEM INTERNACIONAL

Verónica Sandler  – Fundadora do Woman Way in Arbitration.

Por: Jazmín Escalante  – Advogada.

 Entrevista com Verónica Sandler, advogada na Argentina, árbitra internacional, professora de graduação e pós-graduação da Universidade de Buenos Aires (UBA), expoente da área de Arbitragem Internacional e fundadora da Women Way in Arbitration (WWA); que nos conta um pouco sobre a Associação e sua trajetória profissional.

O que é a Women Way in Arbitration?

É uma associação criada e pensada para promover o desenvolvimento da mulher no campo da arbitragem internacional, em particular, e no direito em geral. É uma associação sediada na Argentina, mas com um olhar direcionado às mulheres ibero-americanas e com alcance internacional.

Como surgiu a ideia da WWA?

A ideia surgiu da necessidade de encontrar um espaço comum de comunicação entre as mulheres da região, com preocupações, reflexões e visões comuns sobre a prática. Como todo projeto, começa com uma pequena ideia e depois vão se acrescentando pequenas luzes que lhe dão força e finalmente é possível colocar em prática, surgindo a luz.

O caminho inicial é um dos mais difíceis para qualquer empreendimento, mas foi montado um grupo de trabalho de excelentes profissionais, que formam o Comitê Executivo: María Inés Corra (Argentina), Sandra González (Uruguai), Irma Rivera (Colômbia), Cecilia Azar (México), Macarena Letelier (Chile), Noiana Marigo (EUA) e María Inés Sola (Argentina). A WWA nos permitiu concretizar uma aspiração que muitas de nós compartilhamos. Foi muito importante no início ter o apoio dos nossos “padrinhos” e “madrinhas” que hoje constituem o Comitê Honorário da WWA. Dia a dia, junto com mulheres profissionais que muito admiro, continuamos trabalhando para realizar os sonhos que construímos.

Como começou sua carreira como árbitra?

Para começar, é importante notar que nada é alcançado da noite para o dia.

Os tempos em que vivemos nos levam a pensar que tudo é no momento e agora. Estou na profissão há mais de 15 anos e cada experiência ao longo desses anos me permitiu alcançar de forma sólida a função de árbitra. Não foi fácil, mas aprendi junto com grandes professores, como o Dr. Roque J. Caivano, e outros grandes profissionais que foram muito generosos em compartilhar seus conhecimentos e experiências. Minha primeira nomeação foi em uma arbitragem nacional, segundo as regras do Colégio dos Notários da Capital Federal, e a partir daí tive a sorte e a oportunidade de ser nomeada posteriormente por diferentes partes e instituições em arbitragens nacionais e internacionais.

Quais obstáculos você encontrou ao longo da profissão em geral? O gênero foi um deles?

Os obstáculos encontrados geralmente são gerados por nós mesmos, no meu caso foi difícil desenvolver minha própria autoestima ou segurança. Com o passar dos anos fui aprendendo sobre minhas fraquezas e também sobre meus pontos fortes, tentando me ancorar neles e aprender com os erros.

Nunca senti na minha carreira qualquer tipo de discriminação ou obstáculo direto em relação a ser mulher, mas os jovens e as mulheres profissionais são muitas vezes vistos sob certos preconceitos inconscientes inevitáveis que prejudicam a igualdade de oportunidades.

Como a WWA ajuda as mulheres com relação a estes inconvenientes?

Como eu disse, esses preconceitos inconscientes existem, é uma realidade. A ideia é poder “atualizá-los” aos novos parâmetros e orientações culturais. Para isso, nada melhor do que transparência. Se as mulheres puderem mostrar nossas capacidades e méritos, esses preconceitos desaparecerão. Para isso, precisamos nos fazer ver, e existe a WWA, apoiando as mulheres, dando um “zoom” nelas, ampliando sua visibilidade e participação no campo profissional da arbitragem.

Como professora e coordenadora do curso de arbitragem da Universidad Austral (Argentina), que ferramentas ou recursos você considera indispensáveis para ensinar ou transmitir aos estudantes? E que conselhos lhes daria para desenvolver-se no mundo da arbitragem?

Considero fundamental transmitir aos alunos os valores do esforço, trabalho e perseverança. Como docente, neste ano particular do COVID-19, considero que não se deve limitar-se apenas à transmissão de conteúdos teóricos, mas acredito que também é importante pensar na abordagem acadêmica com diminuição dos conteúdos pedagógicos.

O primeiro conselho que daria para entrar no mundo da arbitragem é aprender sobre o tema e conhecer as vantagens que apresenta como método de resolução de conflitos. Para isso, existem associações de muito prestígio e reconhecidas internacionalmente que promovem o desenvolvimento de jovens profissionais da arbitragem, como o Grupo de Jovens Árbitros da Câmara de Comércio Internacional (ICC YAF), New Generation CAM-CCBC, entre outras.

É possível para os jovens conhecerem sobre a prática da
profissão através das aulas?

Sim, é possível alcançar uma abordagem quase real. Há muitos anos, um método de ensino característico do common law – o sistema jurídico anglo-saxão – vem se desenvolvendo na região, que é o “Moot Practice”. Este método de educação tem sido usado por universidades em todo o mundo para fornecer aos alunos conhecimentos teóricos e práticos combinados por meio de uma atividade extracurricular. Hoje, em quase todas as faculdades de direito, é uma parte importante da educação dos alunos que desejam ser advogados. No campo da arbitragem internacional, existem Moots de grande prestígio a nível regional e internacional, como o Concurso Internacional de Arbitragem organizado pela Universidade de Buenos Aires (Buenos Aires, Argentina) e a Universidade de Rosário (Bogotá, Colômbia) e o Willen C Vis Commercial Arbitration Moot em Viena. Estou convicta de que este método de ensino permite ao aluno conhecer de perto a prática da arbitragem, permitindo a ele adquirir sólidos conhecimentos e ferramentas necessárias ao desenvolvimento da profissão, tais como a elaboração de memoriais, planejamento ou estratégias de defesa, pesquisa, expressão oral, entre outros.

Como você vê o desenvolvimento da arbitragem na região? E o desenvolvimento da América Latina em relação ao resto do mundo?

As estatísticas mostram que ano após ano a prática de arbitragem está crescendo na região. Hoje encontramos um grande avanço na “cultura” da arbitragem na região, embora haja ainda muito trabalho a ser feito. A modernização das legislações dos países da região em matéria de arbitragem continua promovendo seu crescimento, como é o caso do Uruguai e da Argentina, que recentemente em 2018 incorporaram a suas legislações internas uma lei internacional de arbitragem comercial.

Com relação à América Latina no mundo, é claro que também é uma realidade que somos hoje um mercado relevante em termos de arbitragem. Cada país da região tem sua própria marca e desenvolvimento em termos de arbitragem doméstica, como é o caso do Peru ou do Brasil, mas em geral no plano internacional encontramos uma grande fatia do mercado latino-americano nas disputas internacionais.

 Como associar-se à WWA e que benefícios traz?

Recomendo visitar nosso site wwarb.org e aprender mais sobre a associação, seus benefícios e o trabalho realizado.

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